quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Azeite DE OLIVA

Quem não se lembra da divertida definição sobre um etílico como o melhor amigo do homem, do poeta Vinícius de Moraes, em declaração de amor e fidelidade a bebida. “Whisky é o cachorro engarrafado”, dizia. Porém em matéria de saúde, outro engarrafado – mas nada alcoólico – o azeite de oliva, é que mereceria com toda adequação a homenagem.
O azeite sempre foi um produto de grande importância. E isso desde os fenícios, como também para os etruscos, especialmente do ponto de vista econômico, pois entre aquelas civilizações já era um produto destinado à exportação. E nesse âmbito, parece que pouca coisa mudou até nossos dias. Toda a diversificada região ao redor do mar Mediterrâneo, em razão do micro-clima, sempre foi abençoada e especializada no assunto. O resto do mundo teve que se contentar com a importação.
Plínio, o Velho, nos tempos de Pompéia, relata os diferentes tipos de azeitonas conhecidas na sua época. Salienta, em especial, uma variedade muito rara e "mais doce que as passas de uva”, encontrada somente na Espanha. Logo, não deve ser a toa que este país, em pleno século 21 d.c., detém a maior produção mundial em óleos de oliva e tornou-se o maior exportador do produto. Já Catão recomendava uma dieta a base de azeitonas, especialmente para a massa de mão de obra escrava, pelo seu alto índice calórico e de proteínas.
Porém, um bom azeite parece jamais ter sido um pitéu para plebeus. “As 468 Receitas de Ricos” compiladas por Apicius, na Roma Antiga, comprovam a tese, onde citavam 10 ingredientes básicos para a preparação de um “prato de rico”, e por ordem de importância: pimenta, garum, azeite, mel, levístico, vinagre, vinho, cominhos, arruda e coentro. Apicius ainda insistia: “Para cozinhar um prato, são necessários em média oito ou nove destes ingredientes, os quais, devido ao seu preço, não figuram na culinária dos pobres”...
Felizmente as coisas mudaram neste aspecto e o atual modelo econômico contribuiu com certa democratização também à mesa... Afinal desembolsar em média de R$ 12 a R$ 20 por um produto importado, e ainda em se falando de meio litro de bom azeite virgem de olivas, não vai deixar ninguém na ruína – considerando que tal volume irá render muitos pratos e arremates culinários que justificarão o investimento. Mas, especialmente, considerando os aspectos “medicinais” e preventivos que o famoso óleo de oliva promove (e que todo o moderno conceito de alimentação equilibrada apregoa). Ele garante longevidade, baixa do colesterol, combate aos radicais livres, pele luminosa, fácil digestão, inibe a enxaqueca, ajuda na manutenção estrutural das membranas dos neurônios, previne certos cânceres, arteriosclerose, enfartos, derrames, artrites, etc. etc. – atributos que as outras gorduras comestíveis não garantem, convenhamos.
Em razão de tamanhas vantagens, e como “alimento funcional” – que previne doenças – o consumo mundial aumentou expressivamente. O Brasil acompanha atento a escalada. Segundo estimativa da Oliva (Associação Brasileira de Produtores, Importadores e Comerciantes de Azeite de Oliveira), no primeiro bimestre de 2007 foi registrado um crescimento de 32,7% nas importações de azeite em relação ao ano anterior, o que correspondente a mais de 5.200 toneladas vendidas contra 3.900, do ano anterior. Estima-se superar, até dezembro, a marca de 31.500 toneladas – porém, lembrando que o Brasil utiliza modesto 1% do óleo de oliva produzido no mundo.
O diretor da Mr. Man, empresa que comercializa os azeites espanhóis da marca Ybarra no Brasil, Diego Man, acredita no boom dos azeites, em razão do crescimento da informação, especialmente no item saúde – mesmo que até agora os azeites da Espanha tenham ficado com 22% da fatia do mercado brasileiro, o que significou um movimento de US$ 30 milhões.
Por tudo isso, a Mr. Man acaba de diversificar a oferta colocando três novos produtos da Ybarra na classe Extra Virgem (o tipo mais puro, que dispensa refino), no mercado nacional: Azeite Aromático, produzido 100% da azeitona Hojiblanca, com aroma de ervas frescas, ligeiramente amargo e picante com coloração verde amarelada; Azeite Intenso, um Extra Virgem das variedades de azeitonas Hojiblanca e Picual; Azeite Gran Selección Extra Virgem, um sofisticado blended das variedades Hojiblancas e Arbequinas, que é caracterizada por render um azeite suave, doce e com aroma de frutas maduras. A meta é atingir todo o varejo nacional, com preços entre R$17 e R21, em embalagem de meio litro. “O consumidor brasileiro já está apto a escolher variedades mais elaboradas e o mercado para o extra-virgem só tende a aumentar”, avalia o empresário. O sumo extraído das olivas, o azeite, está intrinsecamente vinculado aos hábitos das culturas mediterrâneas desde sempre. Mas é somente a partir do Império Romano que as olivas passam a ter cultivo sistemático e importância alimentar, figurando como um dos pilares da hoje famosa e saudável “Dieta Mediterrânea” – que, trocando em miúdos, quer dizer: trigo, azeite e vinho (complementando: verduras, frutas, lácteos e pouquíssima carne vermelha).
"Zitoun" e "Zite" (oliveira e azeite) é etimologia de origem semita, provavelmente fenícia. No idioma português, a palavra foi emprestada do árabe: “az-zayt”, literalmente suco de azeitona; já os italianos mantiveram o vocábulo latino “olio” – relativo à oliva. Seja como for, o melhor de todos continua sendo o tipo “extra virgem”, prensado a frio. Aqui o termo se refere a acidez. Segundo o COI (Conselho Internacional da Olivicultura), ficou estabelecido que um extra virgem não pode ultrapassar a 0,8% em acidez. Daí até 1,5% o azeite deve ser classificado como simplesmente virgem. Acima desse índice estamos diante de um azeite comum, necessitando de um processo de refino.
Por razões culturais e históricas, o azeite português segue sendo o mais consumido e o predileto entre os brasileiros. Mas quem lidera a produção do mundo é a Espanha, englobando 40% de todo o mercado mundial. O segundo maior produtor é a Itália, com 21%, seguida pela Grécia, responsável por 14%. Outros produtores, como Síria, Turquia e Marrocos, respondem por 15% da produção. Temos aqui que incluir os “azeites do Novo Mundo”, como os argentinos e chilenos – o primeiro, um fornecedor tradicional para o vizinho mercado brasileiro e os chilenos (que há muito se especializaram no agro-negócio de alto nível) estão abrindo fronteiras lentamente.
E por falar em azeite português, a empresa que detém a marca Gallo está festejando um índice nada desprezível: o azeite mais vendido no Brasil, em 2006! A tradicional marca portuguesa de azeites Gallo bateu recorde de vendas com a comercialização de 2,5 milhões de litros, o que representa um crescimento de 40% em relação ao ano anterior. A Gallo fechou o ano com um market share de 21,7% (A/C Nielsen 2006) no mercado brasileiro e consolidou a liderança absoluta emtodas as regiões do país.
"Este aumento é bastante expressivo e pode ser creditado a confiança conquistada entre o consumidor brasileiro, pois Gallo é uma referência que está presente na história das famílias brasileiras, desde a década de 30", afirma Rita Bassi, diretora-geral da Gallo Brasil. A diretora se apressa em esclarecer que, a despeito do tradicionalismo, a marca preferida dos brasileiros se empenha em agregar uma imagem moderna e atual ao produto. Está ai como prova, a série de campanhas promocionais, entre cursos, concursos, conferências na área da saúde e degustações dirigidas que a marca vem promovendo nos grandes centros. Daí que, mesmo sendo a líder de vendas em mercados não tão ilustrados e abastados, como o Nordeste brasileiro (onde as embalagens de 250ml. estouram em vendas), a Gallo não ousa em diversificar em produtos muito diferentes, em tipos de azeitonas ou azeites aromatizados. “Daria um nó na cabeça do consumidor”, alega Rita, que aponta a demanda crescente dos azeites, como “o novo sonho de consumo, até mesmo nas classes C”. A empresa Gallo, diante da tranqüila liderança no Brasil, acaba de lançar o Azeite Novo Extra Virgem – azeitonas novas e de acidez abaixo de 0,3% - destinado a esse emergente e melhor informado mercado que ela ajudou a formar.
“Uma parcela do consumidor brasileiro começa a conhecer e se interessar pelo assunto”, argumenta Rita Bassi, aludindo que paralelamente ao comércio é necessário criar uma “cultura do azeite”, assim como tem sido feito em outros setores, a exemplo do vinho. Sim, porque azeite é um universo tão ou mais complexo que seu “irmão de sangue” mediterrâneo. Assim como as vinhas, as azeitonas variam de cepas, aromas, qualidades, sabores. Garrafas de azeite também são datadas e sofrem os efeitos do tempo, da luz; um azeite virgem, tal como o vinho branco, deve ser consumido em no máximo 2 a 3 anos. E uma vez abertos, se oxidam, alterando-se as características.
Embora o Brasil venha respondendo por apenas 1% do consumo mundial de azeites (a parcimônia de 30 milhões de litros/ano), que atinge 3 milhões de toneladas anuais, já se registram sinais de “vida inteligente” nesse lado do planeta. Seja pelo viés da saúde, seja pelo ângulo da sofisticação da gastronomia, o fato é que lojas especializadas, como a Azaït, em São Paulo, estão encontrando um público ávido por novidades (à parte a variedade respeitável já presente nas gôndolas de bons supermercados).
O empresário Isaac Azar, que começou como importador e hoje trabalha com inúmeras marcas encontráveis na AZaït, apostou todas as fichas no azeite extra virgem. São mais de 70 variedades nessa linha, procedentes das mais qualificadas zonas produtoras do mundo. O cliente da Azït pode degustar de uma variada amostra antes de se decidir por um extra virgem italiano, ou grego, ou da Andaluzia, do Líbano, ou um azeite da Provence francesa. Aromatizados com ervas, trufas negras ou brancas, com pimentas ou de azeitonas mais suaves, para pratos a base de pescados, tudo pode ser encontrado nessa boutique de azeite, que também vem promovendo cursos de degustação para maior conhecimento do assunto. Os vidros de azeite mais procurados são os espanhóis e os italianos, informa a gerente da casa, Marta Abdalla. “A maioria de nossa clientela é composta de médicos, talvez porque eles já sabem de cor o que é bom para a saúde”, avalia.E aqui vai um resumo dos tópicos definidos por uma conferência mundial de saúde, sobre os benefícios do azeite, veiculado pela Associação Espanhola dos Exportadores de Azeite de Oliva (ASOLIVA):
O azeite de oliva virgem é uma fonte saudável de ácidos graxos e de centenas de micronutrientes, especialmente antioxidantes, como os compostos fenólicos, vitamina E e carotenóides.
Na teoria dos radicais livres, o envelhecimento é o resultado de danos oxidativos as células. Alguns desses danos convertem-se em disfunções celulares. Um baixo nível de ácido graxo monoinsaturado (do acido oléico) irá diminuir o estresse oxidativo celular.
A efetividade de uma dieta com azeite de oliva virgem no fortalecimento de membranas, por aumentar a resistência as modificações induzidas pelos radicais livres, já foi relatado. Foi também demonstrado que modificações oxidativas produzidas pela ingestão de gorduras fritas possam ser neutralizados quando usado o azeite de oliva.
O melhor aproveitamento dos teores graxos monoinsaturados (HDL) presentes nos azeites virgens se dá no consumo in natura – sem aquecimento.
Para cozinhar, o óleo de oliva também é o mais indicado, pois é a gordura que melhor suporta altas temperaturas sem causar danos e oxidar, como outros óleos. Mas no caso, basta um azeite comum, pois o extra virgem perde suas características se aquecido acima de 40o .

(matéria publicada na Forbes Brasil / maio 2007)

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